Em 2008, o total de turistas internacionais no planeta chegou a 919 milhões. A crise econômica mundial no final daquele ano derrubou esse contingente para 880 milhões em 2009. Em 2010, a Organização Mundial de Turismo (OMT) projetou, mesmo com um cenário ainda instável, em 920 milhões a quantidade de estrangeiros circulando pelo mundo, mas surpreendentemente esse número chegou a 940 milhões.
Em 2011, a OMT estima que o turismo internacional cresça entre 4% e 5%, o que seria excelente quando se considera que a economia mundial não se recuperou da crise de 2008 e outra ainda mais forte está prestes a ocorrer.
O vigor e o dinamismo do turismo impressionam. Mesmo com a instabilidade na economia mundial, o setor cresce, gerando empregos e renda. O termo crise parece não fazer parte do meio turístico.
O turismo representa atualmente um meganegócio que responde por 11% do PIB mundial e gera cerca de 260 milhões de empregos. A expectativa é que o setor continue se expandindo de modo robusto nos próximos anos. A OMT estima que o contingente de turistas internacionais chegue a 1,6 bilhão em 2020.
Depois do México, que recebe mais de vinte milhões de turistas por ano, o Brasil é o principal destino de estrangeiros na América Latina, com quase cinco milhões de visitantes. O contingente de viajantes internacionais no território brasileiro mais do que dobrou desde meados da década de 90, quando foram registrados dois milhões de pessoas, mas o País ainda é pouco explorado na área turística dada sua diversidade de atrativos naturais e culturais.
A participação brasileira no turismo internacional, cerca de 0,5% do total de viajantes, não condiz com o enorme potencial do País. Explorar esse setor deveria fazer parte de um plano estratégico voltado para a descentralização do desenvolvimento econômico nacional, uma vez que há atrativos turísticos em regiões carentes que poderiam ser utilizados como polos geradores de empregos e renda.
É necessário identificar onde o Brasil é competitivo para atrair turistas e quais os entraves que limitam o setor. O Fórum Econômico Mundial elabora periodicamente um índice de competitividade turística abrangendo 133 países que serve como referencial para a realização de negócios nesse segmento. É um indicador que pode servir para apontar aspectos a serem explorados e identificar onde estão os problemas a serem superados pelo País. O Brasil está em 2° lugar no ranking quando se trata de recursos naturais e em 14° em relação aos atrativos culturais. Por outro lado, quando o quesito é a infraestrutura, a posição brasileira despenca para 110° lugar, e na segurança pública a situação é vexatória por conta da 130ª colocação.
O Brasil precisa capturar parte significativa dos 700 milhões de novos viajantes estrangeiros que estarão circulando pelo mundo em 2020, como prevê a OMT. Esse contingente traria divisas para o país, gerando empregos e renda.
A Copa do Mundo e as Olimpíadas vão atrair um grande fluxo de turistas estrangeiros, e a organização desses eventos deve ter como meta o retorno deles no futuro e que eles possam fazer "propaganda" do Brasil ao redor do mundo. Porém, entraves como a precariedade dos aeroportos e dos transportes urbanos, e a falta de segurança nas grandes cidades podem deixar uma péssima imagem do país lá fora, colocando tudo a perder.
Marcos Cintra é doutor em Economia pela Universidade Harvard (EUA), professor titular e vice-presidente da Fundação Getulio Vargas. www.marcoscintra.org
Publicado no Jornal do Bom Retiro: 25/10/2011