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Marcos Cintra

A violência da seta enobrece o alvo

Críticas devem ser feitas a candidatos, mas precisam ser válidas, não um reflexo de raiva e suas próprias frustrações...


Leia atentamente o artigo de Felipe Salto publicado na 2ª feira (30.set.2024), no UOL “Um patife quer ser prefeito. Reaja, São Paulo!” , e você notará algo perturbador: a virulência com que o autor ataca o candidato Pablo Marçal é não apenas desnecessária, mas profundamente reveladora da fraqueza argumentativa e do ressentimento que deve estar assaltando o colunista.


Salto faz uso de 17 palavrões e impropérios em seu texto, um número que, longe de fortalecer seus argumentos, expõe um manifesto desespero e uma raiva incontida.


Boçal, beócio, nefasto, debochado, calhordice, fanfarronice, picareta, sacripante, torpe, ignóbil, infame, desgraça, salafrário, tíbio, débil, patife, meia pataca…são os que consegui contar.  Pode ter havido mais.


Se você, caro leitor de jornais, alguém ilustrado e politicamente consciente, busca por um texto político que ilumine fatos e esclareça pontos de vista, prepare-se para se deparar com a escuridão de uma retórica raivosa e carente de argumentos reais. Nem um único resquício factual para justificar o dicionário de sacrilégios desferidos pelo autor, além do reconhecido e confessado desvio que o envolveu aos 19 anos de idade. Apenas ilações e interpretações.


Não falo de um debate político nas rádios e televisões, onde esse tipo de comportamento é esperado pois vem sendo, desde sempre, um espetáculo de alta audiência no qual candidatos são lançados na arena como gladiadores em batalha de morte. Isto faz parte de nosso caldo de cultura, ainda pouco desenvolvido. Disto quase sempre resulta em arremessar todos os candidatos neste turbilhão de acusações.


Não critico. Devem sim vir à tona. Para o bem ou para o mal de quem as profere. Não fossem os socos e cadeiradas, isto é democracia, nua e crua, como deve ser num país que tem vergonha na cara.


Mas não estamos mais no espetáculo popular dos debates. Estamos, agora, na coluna de um respeitado portal, do mesmo grupo de mídia que a Folha de S.Paulo, na qual tive a honra de trabalhar por 6 anos como editorialista de economia diretamente com o seu publisher, Otávio Frias de Oliveira. Conheci por dentro a credibilidade do veículo, qualidade que não pode ser maculada impunemente com agressões destituídas de sustentação fática, como sempre foi o mote basilar da Folha de S. Paulo e do ‘seu’  Frias.  A Folha, e o UOL,  podem ser polêmicos, mas não são , e nem nunca foram, imprensa marrom.


Ao lermos o artigo de Felipe Salto, é inevitável perceber que a quantidade exacerbada de palavrões e impropérios é mais um reflexo de sua própria frustração do que uma crítica válida ao candidato. Uma fúria destemperada partindo de um economista respeitado em seu mister precípuo, as finanças públicas, e mais recentemente o mercado financeiro.


Quando um analista, não um candidato, precisa recorrer a insultos e impropérios para criticar um candidato, algo está terrivelmente errado com quem acusa.  Ao chamar Marçal de “patife”, Salto não só rebaixa sua própria credibilidade como pessoa pública, mas também prejudica o lustro do debate no veículo de que se serve, que deveria ser pautado pela racionalidade e civilidade. Utiliza impropérios como se fossem vírgulas.


Em vez de se deixar levar pela avalanche de xingamentos e retórica inflamada, é essencial questionar a razão por trás de tanta agressividade. Felipe Salto consegue, paradoxalmente, ser mais baixo no seu ataque do que os próprios comportamentos que ele alega criticar em Pablo Marçal, que deve estar incomodando os poderosos muito mais do que podemos suspeitar.

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