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  • Marcos Cintra

Consumo e inflação

O consumo das famílias tem sido o principal sustentáculo da economia brasileira. A demanda interna fortaleceu-se por conta dos programas de seguridade, da expansão do crédito e do aumento da massa salarial. Nos últimos anos, mais pessoas passaram a desfrutar de programas de assistência social, cujos repasses vêm sendo reajustados acima da inflação. Outro elemento determinante para a alavancagem da demanda doméstica foram os ganhos reais dos benefícios previdenciários até um salário mínimo, contingente que responde por dois terços do total.


A seguridade social tem sido importante para aquecer o mercado interno, mas é necessário destacar o que ocorre no mercado de trabalho e no crédito à pessoa física. O índice de desemprego hoje é metade do que era há dez anos, e o rendimento real médio mensal dos trabalhadores nesse período cresceu de R$ 1,4 mil para R$ 1,8 mil. Quanto ao crédito para as pessoas físicas, os números também são impressionantes. Em janeiro de 2001, o volume total de recursos para os consumidores equivalia a 5,5% do PIB, e hoje esse montante corresponde a mais de 15% do PIB.


O que não tem faltado é dinheiro para financiar automóveis, eletrodomésticos, imóveis, passagens aéreas, etc. Uma das áreas onde o volume de crédito mais tem crescido é o imobiliário, e essa expansão deve continuar. Seis anos atrás, o saldo dessa modalidade equivalia a 1,6% do PIB, e hoje representa 7,1% do PIB, devendo chegar a 11% do PIB em 2014. A construção civil contempla um dos maiores multiplicadores de renda e emprego da economia, e esse volume crescente de recursos aplicados no setor tem sido um dos principais responsáveis pela manutenção da demanda aquecida.


O maior potencial do consumo doméstico brasileiro é positivo, mas seu ritmo de expansão deveria ter sido acompanhado pelo crescimento da oferta agregada. Ocorre que a demanda avançou numa velocidade maior que a produção, e o resultado foi a pressão sobre o nível de preços. A inflação ao consumidor se descolou do centro da meta de 4,5% há algum tempo e hoje se mantém próxima de seu limite de 6,5%. Para tentar conter a inflação, o Copom começou a elevar a Selic em sua última reunião, mas seus efeitos somente serão sentidos entre seis e nove meses. Esse é o tempo que normalmente os juros básicos levam para causar impacto na atividade econômica e amenizar as pressões sobre os preços.


Em termos de política fiscal, cumpre dizer que o governo contribuiu para a atual pressão inflacionária ao elevar seus gastos de 24% do PIB para 26,5% do PIB em apenas dois anos. Foi um ingrediente importante para a elevação dos preços. O governo tem um enorme desafio pela frente. Não atuou quando a inflação ameaçou subir, e hoje tem que contê-la sem comprometer os avanços nos programas sociais, no mercado de trabalho e no crédito. É necessário zelar pela estabilidade monetária sem destruir o nível de bem-estar alcançado por uma maior parcela da população nos últimos anos e sem impor mais sacrifícios ao setor produtivo.

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