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  • Marcos Cintra

Inovação no Brasil

No Brasil, enfrentamos uma enorme carência de capital, sobretudo em infraestrutura, e a qualidade média da mão de obra é relativamente baixa. Isso representa um sério obstáculo para o desenvolvimento econômico do país. No entanto, mesmo que consigamos superar esses desafios, isso por si só não será suficiente para sustentar o crescimento contínuo da economia brasileira, que depende cada vez mais do progresso tecnológico.


Apenas com um aumento significativo na eficiência poderemos manter um ciclo de expansão econômica sustentável. Nesse contexto, o papel da inovação, seja no desenvolvimento de produtos ou na melhoria de processos produtivos, é cada vez mais crucial. É fundamental criar condições favoráveis para acelerar o progresso científico e tecnológico e incorporar essas inovações à nossa estrutura econômica.


A inovação está intrinsecamente ligada à criatividade, um recurso valioso que precisa ser cultivado. Isso se torna cada vez mais relevante no estágio atual de transformação tecnológica e de integração global na produção e no comércio.


Embora haja um consenso geral de que o Brasil é um país criativo, muitas vezes falhamos em transformar essa criatividade em inovação. Por quê? Existem exemplos notáveis de produtos criativos que se destacam tanto no mercado interno quanto internacionalmente, como as sandálias Havaianas, os produtos de perfumaria ecológica da Natura e o site de comércio eletrônico Submarino. Esses casos de sucesso demonstram que o Brasil possui um grande potencial inovador, especialmente considerando que é classificado como um dos países mais empreendedores do mundo pelo Global Entrepreneurship Monitor e pela organização de fomento ao empreendedorismo, Endeavour.


De acordo com o economista alemão Theodore Levitt, da Universidade Harvard, a criatividade, por si só, não é suficiente para gerar inovação. Criatividade envolve pensar em coisas novas, enquanto inovação consiste em fazer coisas novas. Isso sugere que a inovação no Brasil muitas vezes se traduz como uma adaptação criativa em vez de uma "destruição criativa", um conceito introduzido pelo economista Joseph Schumpeter nos anos 40 para descrever algo que cria novos mercados e ciclos de negócios.


Independentemente da interpretação de Levitt, a criatividade reconhecida internacionalmente no Brasil deve ser explorada para gerar inovação, mesmo que essa inovação não siga estritamente o modelo da "destruição criativa" de Schumpeter. Vale ressaltar que a esmagadora maioria das inovações em todo o mundo parte de algum conhecimento prévio. O produto ou processo resultante é geralmente uma adaptação melhorada que melhora a eficiência de um produto ou processo existente. Essa é a norma universal em relação à inovação, e o Brasil tem um caminho a percorrer para alcançar outros países desenvolvidos e emergentes nesse aspecto.


É fundamental que o Brasil promova um debate significativo sobre esse assunto nos círculos empresariais, acadêmicos e governamentais. Em economias ao redor do mundo, a inovação é vista como um fator de desenvolvimento econômico em crescimento. Na economia brasileira não deve ser diferente.

 

Marcos Cintra é doutor em Economia pela Universidade Harvard (EUA) e professor titular de Economia na FGV (Fundação Getulio Vargas). Foi deputado federal (1999-2003) e autor do projeto do Imposto Único. É Subsecretário de Ciência e Tecnologia do Estado de São Paulo.

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