top of page
  • Marcos Cintra

Livre comércio e diplomacia

O comércio internacional é mencionado frequentemente como uma "máquina de crescimento" para as economias em desenvolvimento. Assim, a remoção das barreiras comerciais serviria como um mecanismo de expansão da demanda efetiva para todas as Nações.


No caso histórico do Brasil, de fato, o comércio internacional criou o impulso inicial para o desenvolvimento de um mercado interno. Mas tal cadeia de eventos somente ocorreu efetivamente durante o ciclo do café, na segunda metade do século 19, ao passo que não se observou qualquer ligação entre comércio e desenvolvimento durante os ciclos precedentes. Além disso, em países com as dimensões do Brasil, o crescimento do mercado interno induzido pelas exportações tende a enfraquecer-se, chegando a um ponto em que a participação no comércio internacional pode perder importância como fonte de expansão tanto da produção como do nível de emprego. No Brasil, o impulso das exportações como fonte de crescimento foi substituído, de 1930 até 1960, pela industrialização com fins de substituição das importações e, depois, pelo aumento da própria demanda interna. Em conjunto, o valor total das exportações e importações soma apenas 17% do PNB. Atualmente, mais de 75% do crescimento industrial das empresas brasileiras de manufaturados é induzido pelo mercado interno; o restante pode ser atribuído em partes praticamente iguais ao crescimento das exportações e à substituição de importações. O mesmo padrão básico pode ser observado quanto ao nível de emprego no setor industrial.


Não se pode ignorar, todavia, a importância estratégica do comércio exterior. O petróleo, os bens de capital, matérias-primas e trigo perfazem quase 95% do total das importações, e há apenas alguns anos uma crise do balanço de pagamento provocou uma recessão que levou quase quatro anos para ser superada. Atualmente, o balanço de pagamentos está equilibrado, mas a economia brasileira está exportando capital à razão de quase 4% do PNB. Em decorrência disso, a poupança nacional baixou dramaticamente, de 27,4% do PNB em meados dos anos 70 para 16% no ano passado.


É a tomada de consciência deste esforço para reduzir a saída de fato que está por trás dos atuais capitais a não mais que 2,5% do PNB ao ano. Somente a redução deste mercado interno aos exportadores fluxo permitirá ao Brasil abrir o seu estrangeiros. O comércio e a dívida tornaram-se questões intimamente relacionadas, uma vez que o Brasil somente poderá importar mais se conseguir reduzir os custos de sua dívida. Este ponto tornou-se uma questão que somente negociações capazes de atender aos interesses mútuos do Brasil e de seus parceiros comerciais podem resolver de maneira satisfatória.


Na realidade, os padrões de comércio internacional nunca estiveram distanciados da política, das negociações, da chamada "diplomacia econômica". A arte de conduzir negócios de Estado sempre se utilizou de instrumentos econômicos e, segundo especialistas neste assunto, a regulamentação do comércio exterior tem sido utilizada como técnica diplomática ao longo de toda a História. Nesse sentido, questões como reserva de mercado e protecionismo devem ser interpretadas como importantes mecanismos de negociação para a obtenção de objetivos mais amplos, como o da reversão dos fluxos de recursos ao exterior.



MARCOS C. CAVALCANTI DE ALBUQUERQUE é Doutor em Economia pela Universidade de Harvard, professor titular da FGV-SP e consultor de Economia desta Folha.

Topo
bottom of page