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  • Marcos Cintra

O Presidente deve explicações

A inusitada explosão do presidente Collor na última sexta-feira, quando vituperou e vilipendiou contra a classe empresarial brasileira, merece a mais eloquente repulsa. O presidente deve explicações à sociedade. Não tem o direito de perder o equilíbrio e a compostura que o cargo exige. Os empresários que lá foram lhe homenagear deveriam ter-se retirado do recinto. O presidente deve exigir deferência. Mas não pode, desatinadamente, distribuir desaforos.


Este incidente mostra ainda que os ânimos, em todos os setores da sociedade, estão se acirrando. O governo demonstra estar desorientado; os empresários acham-se próximos ao desespero; e os trabalhadores perdem empregos e salários. O que resta para servir de amálgama à sociedade brasileira?


Não é atenuante, mas o presidente Collor está tenso e frustrado. Até seu aspecto físico revela. Armado das melhores intenções, com projetos e promessas que entusiasmaram a muitos, o presidente liderou importantes reformas estruturais. Mas a instabilidade monetária desfaz qualquer efeito positivo que suas reformas possam estar produzindo.


A economia brasileira hoje é mais aberta; a reforma comercial está em curso; há um calendário para o Mercosul; o cartório da informática está condenado; o programa de privatização foi deflagrado; vários setores foram desburocratizados. Acham-se em marcha estudos para outras importantes reformas, como a tributária e a previdenciária. Há prioridade para a reforma administrativa e para uma remodelagem da área fiscal como um todo. Mesmo assim, nada funciona.


Falta ao atual governo competência técnica e política para realizar as metas que o presidente determinou. Collor cercou-se de auxiliares medíocres, que mantém inexplicavelmente em seus postos; não tem mais controle da situação. Em realidade, está perdendo a capacidade até para formar um bom governo, pois não tem credibilidade.


O presidente deve explicações à sociedade pelo fracasso de sua administração. O governo teve todo o apoio que precisou. Exigiu, e obteve, muito mais do que qualquer governante no mundo ousaria pedir.


Cabe ao presidente reverter o atual quadro de desintegração econômica e social do país. Porém, ele precisa se conscientizar de que brandindo solitariamente um rosário de ofensas e de frustrações, nada será conseguido. O país precisa de competência, seriedade, honestidade, austeridade, punibilidade. Há quadros para realizar este projeto. Cumpre ao presidente buscá-los e prestigiá-los.



Marcos Cintra Cavalcanti de Albuquerque, 45, é doutor pela Universidade de Harvard (EUA), professor da Escola de Administração de Empresas de São Paulo da Fundação Getúlio Vargas, consultor de economia da Folha e presidente regional do PDS.

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