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  • Marcos Cintra

Trânsito: um gargalo nacional

As vendas de veículos no mercado interno brasileiro saltaram de 1.074.268 unidades em 1999 para 2.195.775 unidades em 2007. Em 2008, novo recorde de vendas deve ocorrer, impulsionado pela continuidade da expansão do crédito.


O Brasil possui um grande mercado a ser explorado pela indústria automobilística. Dados da Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores) mostram que, enquanto a relação habitante por veículo é de 1,2 nos Estados Unidos, 3,2 na Coreia do Sul e 5 no México, no Brasil ela é de 8.


Por conta do potencial do mercado brasileiro, da expansão do crédito e da estabilidade econômica, o setor automobilístico investe pesado em suas linhas de montagem no país. Só neste ano são US$ 5 bilhões para aumentar a produção e, até 2010, serão mais US$ 20 bilhões. Em 2007, a produção de 2,9 milhões de veículos foi recorde e a estimativa de 3,2 milhões de unidades para este ano será revisada por conta da aceleração das vendas.


O cenário descrito causa muita apreensão, pois a situação da mobilidade nas grandes e médias cidades, que já é crítica, pode ficar ainda pior daqui para a frente. O rápido aumento da frota de veículos eleva a lentidão do trânsito, com consequente impacto negativo na competitividade da economia nacional.


Para mensurar os prejuízos econômicos causados pela lentidão do trânsito, coordenei um estudo considerando a situação na cidade de São Paulo. O município representa 12% do PIB nacional, e fenômenos que impactam sua estrutura produtiva têm efeito por toda a economia nacional. Todos pagam pelo caos de mobilidade na principal economia do país.


Vale citar que, entre janeiro de 2003 e março de 2008, o número de automóveis na cidade de São Paulo aumentou 804.714 unidades, equivalente a 12.979 por mês ou 433 por dia. Quando se trata da frota total (automóveis, caminhões, utilitários, entre outros), foram adicionados 1.270.689 veículos, o que equivale a 20.495 por mês ou 683 a mais por dia. Os desembolsos que somavam R$ 5,3 bilhões por ano em 2004 hoje são de R$ 6,5 bilhões por ano.


Os congestionamentos em São Paulo não são um mero problema local, mas um gargalo nacional. A lentidão crescente dos deslocamentos implica custos bilionários. E, mais grave ainda, a tendência é que continuem aumentando, pois a frota segue em expansão.


Acenar passivamente para futuros investimentos em transporte coletivo é uma atitude de cruel conformismo, pois significa que não haverá solução para o trânsito paulistano até o país se tornar rico e ter recursos para resolver o problema, ou atrair investimentos externos. Mas isso certamente não ocorrerá com as condições de circulação na cidade, uma vez que elas geram deseconomias externas e restringem a capacidade de crescimento da renda, do emprego e dos recursos para investimento.


Aumentar a velocidade de locomoção na principal cidade do país é uma necessidade urgente. Essa empreitada envolve uma postura mais efetiva dos três níveis de governo e a celebração de parcerias entre os setores público e privado.


 

(*) Marcos Cintra é doutor em Economia pela Universidade Harvard (EUA), professor titular e vice-presidente da Fundação Getulio Vargas.

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