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  • Marcos Cintra

Vergonha

O Brasil vive um momento em que toda semana surge a expectativa de um fato novo mostrando como os impostos vão para o ralo por conta da corrupção impregnada na administração pública. Superfaturamento de obras e serviços, tráfico de influência, fraudes em licitações e outras maracutaias viraram uma triste rotina no país. O contribuinte brasileiro se sente impotente diante da roubalheira e fica indignado com a impunidade que beneficia políticos e servidores inescrupulosos que sorrateiramente tiram recursos de hospitais, escolas, rodovias, segurança, etc.


A corrupção e a impunidade envergonham o Brasil no cenário mundial. Quando um membro da quadrilha que assalta os cofres públicos é flagrado cometendo delito, o que tem acontecido na maioria dos casos é a simples perda do cargo que ele ocupa na administração pública. Tenta-se passar a impressão de que dessa forma está tudo resolvido, mas os corruptos e seus cúmplices seguem com o patrimônio que acumularam com o dinheiro desviado, e políticos continuam ocupando cargos eletivos ou exercendo poderes paralelos porque ainda têm influência em postos-chaves no governo.


O Brasil perdeu uma oportunidade de iniciar uma grande faxina com o caso do mensalão, um ícone da picaretagem na administração pública brasileira. Uma reforma política radical poderia ter sido deflagrada naquela ocasião para começar a eliminar políticos corruptos do meio público, e nada foi feito. Mais uma vez a impunidade prevaleceu, fomentando a corrupção endêmica que contamina o país. Muitos dos protagonistas daquela rapinagem de verbas governamentais continuam exercendo seus poderes, tendo cargo no governo ou não, como se nada tivesse acontecido.


É revoltante para o trabalhador brasileiro ver que políticos e servidores públicos se apropriam sordidamente de parte de seu esforço. A roubalheira no país prolifera espantosamente, e a reforma política poderia ser um ponto de partida para coibir a corrupção. A reforma política deve ser capaz de contribuir para moralizar a administração pública brasileira. Ela precisa "desprofissionalizar" a política e desmantelar as organizações criminosas incrustadas no governo. O processo deveria começar proibindo que parlamentares ocupem cargos executivos; precisaria reduzir drasticamente o número de servidores em cargos em comissão, o que formaria um corpo técnico estável no governo; e determinar que, caso fique comprovado que parlamentar indicou servidor para qualquer cargo executivo, ele perderia sumariamente seu mandato.


É imprescindível moralizar a máquina pública brasileira em todos os níveis. É preciso remodelar os parâmetros comportamentais da classe política do país. Um cargo eletivo deveria ser uma contribuição que todo cidadão oferece temporariamente à coletividade, e jamais deveria ser transformado em atividade profissional, nem substituir os meios de sobrevivência individual das pessoas envolvidas. Um político que tenha perdido sua condição de sustentação no setor privado, que tenha se afastado de sua profissão e que passe a depender da política para sua manutenção, torna-se capaz de tudo e de qualquer coisa para sobreviver.

 

Publicado na Revista Fecontesp - Setembro/Outubro de 2011

Publicado no Jornal Perfil Econômico: 09/09/2011

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