Segundo o Fórum Econômico Mundial, a estrutura tributária brasileira é a pior do mundo. Bilhões de reais são desperdiçados todo ano pelas empresas para manter um sistema absurdamente complexo, comprometendo com isso a capacidade competitiva da produção nacional. Um dos impostos que mais contribui para essa situação vexatória é o ICMS, tributo mais sonegado no País e que fomenta a guerra fiscal entre estados.
Dias atrás, a Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado aprovou um projeto do governo que unifica em 4% a alíquota do ICMS cobrada nas vendas de mercadorias entre estados. Hoje o comércio interestadual contempla alíquotas que variam entre 7% e 12%, o que estimula as condenáveis disputas por investimentos através de incentivos fiscais oferecidos por governadores, a chamada guerra fiscal, e dá margem a todo tipo de fraude.
A unificação da alíquota do ICMS interestadual é um remendo para minimizar a balbúrdia fiscal que esse imposto gera. Cumpre dizer que, caso o projeto seja aprovado como está, alíquotas diferenciadas continuarão existindo. A Zona Franca de Manaus poderia cobrar 12% de ICMS, e estados do Norte, Nordeste, Centro-Oeste e o Espírito Santo poderiam aplicar alíquota de 7% nas vendas para o Sul e Sudeste. Ou seja, brechas continuarão existindo para fraudes e conflitos entre estados.
O ministro Guido Mantega comandou a tramitação desse projeto no Senado. Durante audiência em fevereiro, afirmou que a reforma tributária é necessária para aumentar a competitividade da economia brasileira e para manter o crescimento do PIB. Oportunamente, disse ainda que "temos tributos arcaicos que já cumpriram o seu papel. Eram adequados para o passado, mas não são mais". Seu discurso foi perfeito até aí, mas foi uma lástima quando mostrou que a reforma que o governo deseja se restringe a mexidas superficiais em impostos complexos como o ICMS e o PIS/Cofins.
Com a aprovação da proposta pela CAE, Mantega reforçou a ideia de que não dá para esperar muita coisa em termos de uma reforma tributária séria, nos moldes que o país requer para promover a redução do custo de produção para as empresas e aliviar o ônus fiscal para a classe média. Essa constatação se deu com a declaração do ministro de que "se acabarmos com a guerra fiscal, estará feita boa parte da reforma tributária que o Brasil precisa".
O projeto do ICMS aprovado na CAE está longe de atender às necessidades brasileiras na área fiscal. É uma medida tímida frente ao tamanho dos problemas, que fazem com que o Brasil seja disparado o país que mais exige tempo das empresas para que elas administrem os tributos a pagar. É frustrante a visão tributária convencional que domina o país. É sempre a mesma coisa. É feito um alvoroço em relação à reforma tributária quando um candidato assume o governo ou está em campanha e depois tudo se resume a retoques numa estrutura péssima.
Marcos Cintra é doutor em Economia pela Universidade Harvard (EUA), professor titular e vice-presidente da Fundação Getulio Vargas.