As cidades abrigam 3,4 bilhões de pessoas e até 2025 a esse contingente será adicionado mais de 1,5 bilhão de indivíduos. Esse crescimento causa apreensão, principalmente nas megacidades de países em desenvolvimento, como São Paulo. A capital paulista registra inúmeros problemas por causa de sua acelerada expansão populacional. Entre 1960 e 2008, sua população quase triplicou, passando de 3,8 milhões de habitantes para 11 milhões. Ou seja, em apenas 48 anos, aumentou em 7,2 milhões o número de pessoas na cidade -isso equivale a uma Londres, por exemplo. Até 2025, São Paulo terá mais 1,5 milhão de pessoas. É fundamental repensar a cidade e seus problemas. A dinâmica urbana assume novas formas e gera novas demandas que precisam ser criteriosamente analisadas. A ocupação do solo se deu desordenadamente devido à proliferação de favelas e de loteamentos irregulares. Áreas de preservação ambiental e terrenos públicos e privados continuam sendo ocupados ilegalmente, gerando benefícios privados e grandes transtornos públicos. A água é uma das grandes questões. A carência dela na região metropolitana é maior do que nas áreas mais secas do Nordeste. São 165 mil litros por pessoa por ano na Grande São Paulo, contra 400 mil litros per capita no sertão nordestino. Quanto ao lixo, São Paulo gasta R$ 1 bilhão por ano para processar as 13 mil toneladas produzidas diariamente. A reciclagem ainda é insuficiente, e os aterros estão próximos do esgotamento. A destinação de esgoto "in natura" nos rios, córregos e represas também angustia os paulistanos. Só no entorno das represas Guarapiranga e Billings, responsáveis pela maior parte da água consumida na cidade, moram mais de 2 milhões de pessoas, e o esgotamento hídrico dessas moradias é jogado nelas sem nenhum tratamento. A poluição do ar também atenta contra a qualidade de vida. Inala-se em São Paulo uma quantidade diária de poluentes que, segundo a USP, reduz em um ano e meio a expectativa de vida da população. O trânsito é o problema imediato que mais tem atormentado o paulistano. Locomover-se por São Paulo é uma tortura cada dia mais cruel e que gera prejuízos de mais de R$ 33 bilhões por ano, como avaliei em estudo sobre o tema. Trata-se de um dos maiores desafios na elaboração de políticas urbanas. O colapso é iminente porque o número de veículos em circulação cresce assustadoramente. Um "mix" de medidas é necessário, mas o fundamental é rever o modelo viário, tão dispendioso quanto ineficiente. Repensar São Paulo deve ser a palavra de ordem para os gestores urbanos. Um ponto de partida para discutir esses problemas foi minha sugestão de criação do Conselho da Cidade, em evento no Sindicato dos Engenheiros, que teve a presença do prefeito Gilberto Kassab. A proposta é criar um fórum de discussão cuja diretriz básica é a elaboração de um novo modelo urbano para São Paulo. Técnicos têm participado, e uma agenda de temas vem sendo apresentada e será publicada em livro em setembro. O Conselho da Cidade é uma iniciativa pioneira que surge em resposta à expectativa de degradação ainda maior da qualidade de vida em metrópoles como São Paulo. É preciso criar alternativas para os sofridos moradores dessa e de outras megametrópoles que estão surgindo no mundo. Velhas soluções não serão respostas adequadas aos novos desafios. É preciso repensar as cidades. Sugestões e colaboração serão bem-vindas.
Marcos Cintra - Folha de S.Paulo